quinta-feira, 4 de abril de 2013

Eu NÃO quero a vossa amizade!

Pois é, tem sido difícil abordar a Linda. Ela isola-se e se nos vê aproximar, troca-nos as voltas. Na aula com a DT, pediu para falar, a professora deu-lhe a palavra. Ela levantou-se, tossicou: 
- Olha, eu já estou farta dos vossos olhares atravessados, não tenho pachorra para os vossos cochichos, não acho graça às vossas caras de parvos... Parem de olhar para mim como se eu fosse um ET. Vocês não são melhores do que eu, eu não preciso de vocês para viver, há umas horas nem vos conhecia, nem sabia que existiam. Não precisam de se esforçar para me tolerarem, para fingirem que querem ser meus amigos. Eu não quero a vossa amizade. Se alguém vos disse que tinham de ser meus amigos, enganou-vos. Eu sou eu e vocês são desconhecidos que eu tenho de tolerar porque vim parar a esta terrinha, a esta escolinha de gente metida, de gente que acha que pode salvar a pátria, os pobrezinhos, os sem-abrigo, os alienados... Que fique esclarecido de uma vez por todas, eu NÃO quero a vossa amizade!  Não me dirijam a palavra, porque eu não vo-la dirigirei... Tenho dito! Ah, não precisam de comentar, aliás, poupem-me aos vossos comentários. Obrigada, professora, pelo tempo de antena concedido. Até amanhã!
Francisco, ela pegou nas coisas e saiu, a professora nem teve tempo de dizer o que quer que fosse. Nós olhávamos uns para os outros, enquanto arrumávamos o material.
O André pegou na mochila e disse resoluto:
- Pronto, professora, tarefa inconcluída, por incompreensão e recusa da pessoa em questão.
Saímos da sala de cabeça baixa. 
- Rita, - chamou a professora - amanhã vamos fazer um trabalho de grupo. Fala com os teus colegas de modo a combinarem os grupos, incluindo a Linda. Os elementos do teu grupo serão: tu, a Margarida, a Linda, o André e o Gonçalo. Os outros grupos serão como quiserem...
Percebi logo a intenção da professora, a Linda vai ter de falar connosco mesmo que não queira: o Gonçalo é um espalha-brasas; o André tem um sentido de humor incrível, mas também sabe ser torto e inconveniente; a Margarida é engraçada, tem sempre uma palavra amiga, é boa aluna, é ponderada; e eu, a santa Rita, sempre pronta a pôr água na fervura...
- O trabalho será feito na aula, mas terão de marcar alguns encontros fora das aulas, em casa de algum, na biblioteca... onde quiserem. É necessário que consigam levar a Linda a encontrar-se convosco para a realização do trabalho. Rita, já sabes que confio inteiramente em ti. Tenho a certeza que conseguirás em conjunto com os teus colegas integrar a Linda na turma e, quem sabe, se não ficam todos amigos.
- Isso era uma grande vitória, professora! - conclui sorridente.
- Até amanhã, Rita!
- Xau professora!

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