domingo, 10 de março de 2013

Tenho dois namorados e...

Francisco, tenho andado ocupada: testes, trabalhos, estudar, estudar, estudar... Mas, pronto, cá estou para te contar acerca do baile de máscaras.

Chegámos ao salão e ao entrarmos, toda a gente se virou, nunca tinham visto tantas sevilhanas todas igualzinhas e, quando digo iguaizinhas... é porque éramos mesmo todas iguaizinhas! Fizemos o que a  Francisca nos pediu: um grupo ficou perto da porta, o outro perto do conjunto musical, ou seja, em lados completamente opostos. Ela desapareceu por alguns minutos. Dançávamos já todas animadas, quando apareceu a minha doce maninha com o Carlos... 
Lembras-te do Carlos, Francisco, o namorado de Lisboa da minha irmã. Sim, era do Cartaxo, mas estava a estudar em Lisboa.
O rapaz ficou meio à toa no meio de tanta sevilhana e tentou não perder a Francisca de vista. A minha mana, entretanto pediu-me que fosse com ela à casa de banho! Fiquei a olhar para ela, mas ela puxou-me por um braço e levou-me a trote. Na casa de banho, disse-me que estava à espera de outro rapaz e que eu tinha, de vez em quando, de me fazer passar por ela! Abri de tal modo os olhos, por detrás da máscara, que ela desatou a rir e a dizer que os meus olhos estavam prestes a saltar dos buracos da caraça para fora. 
- De vez em quando, tenho de fazer-me passar por ti? - balbuciei incrédula. E ela trocista:
- Sim, Francisca II, danças ora com o Carlos, ora com o Pedro. Percebeste ou tenho de fazer um desenho?
- Está doida? Só podes estar doidinha de todo! E quem é esse Pedro? 
- O Pedro é um rapaz que me adora, conheci-o numa festa na praia. É lindo, simpático, vais gostar dele, tenho a certeza.
- Francisca, isto é de doidos, vamos ser descobertas!
- Não vamos nada, eu danço com o Carlos, enquanto tu danças do outro lado da sala com o Pedro. Depois, eu invento uma desculpa, deixo o Carlos e troco contigo. Quando me vires surgir, dás uma desculpa ao Pedro... Eu apareço ao Pedro e tu ao Carlos e assim por diante... Vai ser divertido! Imagina, os dois a pensarem que estão a dançar comigo.
- Tu és doida varrida e ninguém sabe! Depois disto, se sobrevivermos, peço ao pai para te internar.
- Vai correr tudo bem, vais ver!
- Se eles descobrem?
- Não descobrem nada! Vamos lá! Agora eu fico com o Carlos e daqui a três músicas, trocamos. Encontramo-nos sempre a meio do salão, do lado das janelas. A que chegar primeiro, espera pela outra, Ah, temos de fazer com que as nossas amigas não se espalhem pelo salão, os dois grupos devem estar sempre no seu lugar, como combinámos. Mas, isso já está tudo mais que acertado. Olha, não te esqueças de rir, nem era preciso dizer-te, nisso és bem parecida comigo: a vida leva-se melhor a rir!
- Ai, Francisca, vou rezar a todos os santinhos para que isto dê certo! Queres dizer-me...  afinal, tens dois namorados, é isso?
- Não tenho nenhum, sou livre, completamente livre, mas eles pensam que sim, que sou namorada deles..
- Coitados, Francisca!
- Pronto, já cá faltava a defensora dos pobres e dos oprimidos! Eu não faço mal nenhum, nunca lhes disse que gostava deles, nem a um nem a outro... É a única maneira de se sentirem os dois felizes! E não penso ficar com nenhum dos dois, podes crer. 
Segui a minha irmã até à porta.  Ela dirigiu-se a um rapaz de cabelo escuro e olhos azuis, tocou-lhe no braço e disse-lhe qualquer coisa. Ele deu-lhe a mão e avançaram para o meio das outras sevilhanas, juntei-me a eles e, de repente, a minha irmã desaparecera e vi-me a dançar com o Pedro.
A minha maninha tinha ido para a outra ponta da sala dançar com o Carlos, Francisco! Ah, já percebeste!
Dancei três músicas com o Pedro, disse-lhe que voltava logo e afastei-me ao encontro da Francisca. Cruzámo-nos a meio do caminho, ela apertou-me a mão enluvada e seguimos cada uma para o seu lado.
- Não demoraste mesmo nada, a tua maninha estava a portar-se bem? - perguntou o Carlos, enlaçando-me.
Assenti com um gesto e rodopiei, levada no abraço dele, leve, leve, leve...
- Já sei, vais dar uma espreitadela à Rita! - disse-me, quando me viu afastar. Não demores. 
E mais uma vez, me vi entre os braços do Pedro. Era um abraço mole, molenga, preferia os braços do Carlos, fortes, prendiam-me, parecia ter medo que eu lhe escapasse, não sei! O Pedro passava o tempo a segredar-me ao ouvido e parecia feito de gelatina. Queria que as músicas passassem depressa para trocar de par.
E mais uma vez me vi entre os braços do Carlos:
- Francisca, tu  pareces duas pessoas: meiga, embora absorta, pensativa, a deixares-te levar como uma pena; depois, de repente, transformas-te e és um vendaval, uma tempestade e rodopias como um tornado, levas tudo à frente, levas-me... És realmente única, por isso te amo. Mas, tu não me amas, não é?
Escapei-me à resposta para ir dar uma vista de olhos à "Rita". Pelo caminho ia a pensar, a minha irmã mete-me em cada uma...
O Pedro abriu os braços moles para me acolher e disse:
- Isto de teres de tomar conta da tua maninha é uma boa chatice, não é?
Concordei, com vontade de matar a Francisca.
Estás curioso com uma coisa, Francisco? Ah, como fizemos quando viemos embora? Ah, foi fácil! Isso já tínhamos combinado antes.
À hora estipulada, o grupo juntar-se-ia à porta e, na confusão da despedida, no meio de tanta sevilhana, sairíamos, despedindo-nos todos com um até mais logo e pronto.
Bem, a minha última dança foi com o Carlos, ainda bem, gostei de dançar com ele, gostei de me sentir segura. Quando tiver um namorado, tem de me agarrar como o Carlos, fazer-me voar sem me deixar cair...
Não fiquei nada apaixonada pelo Carlos, és tonto, Francisco! Ele é muito mais velho do que eu, ele até é mais velho do que a Francisca...
E pronto, terminou o baile, juntámo-nos todas e, ala que se faz tarde. Despedimo-nos dos rapazes todos que tinham estado no grupo, incluindo o Pedro e o Carlos:
- Um resto de boa noite, Francisca, tira a máscara, queria um beijinho...
Acenei um não e afastei-me agarrada à minha irmã e à Joana. Pelo caminho, a conversa foi animada, mas eu só queria aterrar na minha doce caminha e dormir, dormir, dormir...


1 comentário:

  1. A história continua?
    De qualquer modo, a maninha é uma safadinha... isso faz-se ao rapaz...?
    Rita, minha querida amiga, tem uma boa semana.
    Beijo.

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