quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Uma história horrível


Francisco, a minha mãe acabou de me contar uma história horrível que se passou com ela, vou narrar-ta na primeira pessoa, tal como ma contou:

Tinha 22 anitos. Um horário misto: diurno e nocturno. Turmas de 10.º e 11.º anos. Quinta-feira à noite. Dia de selecção na televisão. Dia livre à sexta-feira, preenchida com aulas na Faculdade. Os meus alunos do 11.º ano decidiram brindar-me com uma folga. Mais importante do que a aula de Francês era, com certeza, o jogo da selecção. Entrei na sala vazia, esperei, esperei... Apareceu uma rapariguinha pouco mais velha do que eu a avisar-me que estavam todos no café a ver o bendito jogo. Escrevi o sumário, saí, fechei a porta, arrumei o livro de ponto e decidi não esperar pelos meus pais que iam todos os dias, à noite, buscar-me à escola. Meti-me a caminho. No dia seguinte, tinha Expresso às 6 horas e 30 minutos para Lisboa e um dia repleto de aulas. Era da maneira que ia mais cedo para a caminha! A escola fica a cerca de 500 metros da casa dos meus pais. Não se via ninguém na rua. Quase a meio do caminho, senti um arrepio e abotoei o casaco. Olhei para trás, um indivíduo vinha lá ao fundo, muito ao fundo. Descansei. Pensei, outro que saiu mais cedo!... Alarguei o passo, tinha pressa de chegar a casa. Não sei porquê, mas estava com medo! Voltei a cara para trás, sem alterar a passada, e reparei que o indivíduo ganhara terreno... Também está com pressa! Faltavam uns metros para chegar a casa dos meus tios, que dista uns 50 metros da casa dos meus pais. Apressei ainda mais o passo e o medo também! Olhei pelo canto do olho. O homem de camisola cor de tijolo estava cada vez mais perto. Bastava, agora, atravessar a estrada para chegar a casa dos meus tios. Ouvia agora os passos do individuo. Alarmada, pedia a Deus: Por favor, deixa-me chegar ao portão! Ao portão! Ao portão! Corri e o homem correu atrás de mim. Lancei-me ao portão e agarrei-me, como a uma tábua de salvação. A camisola cor de tijolo agarrou-me por trás, tapou-me a boca com a mão enluvada e pressionava-me com algo pontiagudo nas costas. Senti o seu hálito quente e nojento no meu ouvido: se fizeres tudo o que te disser, não te faço mal. Puxava-me com força para eu soltar o portão e eu agarrava-me com todas as minhas forças. O portão oscilava e fazia barulho por causa dos puxões... As luzes acenderam-se, a chave rodou na fechadura, o indivíduo largou-me e fugiu. Eu caí na lama, junto ao amontoado das pedras da calçada (andavam a fazer os passeios). O meu tio surgiu, saltou por cima de mim, e correu atrás do indivíduo. A minha tia acudiu-me, no momento em que os meus pais iam a passar para me irem buscar à escola. Junto a mim, ficara caída a navalha de ponta e mola que o homem me apontara às costas. Eu tremia que nem varas verdes em dia de vendaval. A vizinhança apareceu toda ali. Pouco depois, surgiu o meu tio com o desgraçado. Já lhe tinha dado uma boa coça. Levámo-lo ao posto da polícia. Apresentei queixa. Ficou detido. Foi julgado tempos depois e apanhou nove anos de prisão... Já tinha violado algumas professoras e alunas com horário nocturno... Nenhuma tinha apresentado queixa por vergonha, talvez! Eu fui a única, mas todas apareceram no posto da polícia, quando souberam que o individuo tinha sido apanhado e ia ser julgado... Identificaram-no também...
Ainda hoje, tenho algum medo de sair, à noite, sozinha. Ainda hoje, olho mil vezes para trás quando vou na rua sozinha...

Francisco, eu estava siderada a ouvir esta história! Agora compreendo a aflição da minha mãe, quando pulou do carro para me acudir!
Sim, Francisco, se os meus pais se tivessem atrasado mais um pouco, eu não sei o que podia ter acontecido... Sim, tens razão, ambas as histórias são horríveis e podiam ter acabado muito mal...

1 comentário:

  1. Tu podes escrever guiões para filmes de suspense... Até eu estava aflito...
    Magnífico, como sempre.
    Rita, minha querida amiga, tem um bom fim de semana.
    Beijo.

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