segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Francisca está apaixonada!

Recebi um telefonema da Francisca: olha diz à mãe que no próximo fim-de-semana levo um amigo... 
- Trazes um amigo para passar cá o fim-de-semana? - perguntei admirada.
- Qual é o espanto? - tornou ela, já com a pimenta, a mostarda, o gengibre, as especiarias todas a chegarem-lhe ao nariz.
- Está bem, eu digo, não, não me esqueço!
Francisco, a minha irmã nunca trouxe um único amigo para passar um dia cá em casa, quanto mais um fim-de-semana! Se ela vai trazer um agora, é porque ele é importante para ela, deve estar apaixonada! Ela nunca nos apresentou um único namorado... 
Ó Francisco, claro que ela teve namorados, só estou a constatar que não eram importantes, nunca quis que os conhecêssemos... Talvez não sentisse amor por nenhum como por este... Sei lá!
A minha irmã é uma miúda toda gira, eu bem vejo os olhares que os rapazes lhe atiram, quando saímos, portanto teve milhares de namorados com certeza ou pelo menos rapazes que gostavam dela... O estranho é ela agora trazer um "amigo" sem ter dito nada a ninguém... Nunca nos falou de ninguém em especial!
O meu pai não vai achar graça nenhuma, eu já o conheço, vai haver tempestade a partir de sexta-feira à noite... 
Estás parvo, Francisco, sei lá se vai chover e trovejar no fim-de-semana, vai haver tempestade cá em casa...
Olha, repara bem, aqui há tempo, num Sábado, os meus pais tinham ido às compras. Tocaram à campainha. Fui abrir. Deparei-me com um "cãozinho abandonado" que queria falar com a Francisca.  Disse-lhe que se sentasse num dos bancos do jardim...
Eu sei que os cães não falam, Francisco, tu só podes estar a brincar comigo. Era um rapaz. Ri-te, ri-te! 
Já não te conto mais nada! As desculpas não se pedem, evitam-se, meu caro amigo!
A minha irmã estava a dormir. Ao subir a escada para a ir chamar ia a rezar a todos os santinhos para que ela não tivesse botas, livros grossos ou objectos pesados perto dela, à mão de semear... Bati de mansinho e chamei:
- Mana, está ali um rapaz que quer falar contigo. Está com cara de cãozinho abandonado!
- Quem?
- Como se chama? Não perguntei! Está sentado à porta, à tua espera... Mando-o embora! Nem penses, vai lá tu dizer-lhe que se vá...
A Francisca levantou-se contrariada, abanou a cabeça para espalhar os cabelos dourados por cima dos ombros, enfiou-se na casa de banho. Saiu. Vestiu o robe florido por cima da camisa cor-de-rosa de renda, escolheu uns chinelos de salto alto, lindíssimos, brancos e rosa (as lojas que ela fez os meus pais correrem para encontrar aqueles chinelinhos! Encontrámo-los no Porto!). Olhou-se ao espelho, sorriu, passou batom nos lábios e ajeitou de novo os caracóis... Olhou para mim, piscou-me o olho, e perguntou:
- Ainda aí estás? Que tal estou?
- Linda. Vais a alguma festa?
Atirou-me um olhar verde furibundo e desceu as escadas, parecia flutuar... Eu segui atrás dela, parecia a rainha e a ama...
Abriu a porta, olhou para o lado.
- Francisca, queria tanto ver-te, quero falar com os teus pais... - balbuciava o rapaz todo enfiado. Parecia tão pequeno, ínfimo ao pé da minha irmã.
- Queres o quê? - perguntou rispidamente, sem pestanejar, a minha irmã, muito direita.
Não o deixou falar mais, que desaparecesse:
- Falar com os meus pais? Por alma de quem e para quê? Pensavas que éramos namorados? Acredito que sim, mas não somos, nunca fomos, aliás... 
Apontou-lhe o portão, sem deixar de falar, o rapaz parecia um boneco sem reacção, muito vermelho. Saiu e ficou parado do outro lado a olhar para nós, eu estava com pena dele! Agora, sim, tinha mesmo o aspecto de um animal abandonado, escorraçado até...
- Eu nunca fui tua namorada, alguma vez falámos nisso? Não, pois não? Então, desaparece! 
Voltou costas ao rapaz e eu segui atrás dela para casa.
- Olha-me esta - dizia ela - nunca falou comigo sobre namoro, nunca lhe disse que gostava dele e agora aparece para falar com os meus pais. É doido! 
- Coitado, Francisca, ele deve gostar mesmo de ti, veio de Lisboa de propósito...
- Queres parar com isso! Tens pena dele? Vai lá e oferece-te para namorada dele, até és parecida comigo, ele só tem de esperar que cresças mais um bocadinho, ainda és muito novinha...
Fiquei a olhar para ela com uns olhos enormes e ela:
- És uma tontinha pequenina! Vem cá, vamos conversar.
Sentámo-nos na cama dela e foi onde os nossos pais nos encontraram, quando chegaram.
Não, Francisco, os meus pais nunca souberam do "cãozinho abandonado", não é "amestrado", tonto!
Pois é, cá para mim, a Francisca está apaixonada!

1 comentário:

  1. Muito bonito este texto. Gostei muito.
    Desejo que esteja bem.~
    Desejo que esteja bem.

    Venho desejar-lhe a si e sua

    Família um FELIZ NATAL.

    Bj.

    Irene Alves

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