Francisco,
a minha mãe acabou de me contar uma história horrível que se passou com ela,
vou narrar-ta na primeira pessoa, tal como ma contou:
Tinha
22 anitos. Um horário misto: diurno e nocturno. Turmas de 10.º e 11.º anos.
Quinta-feira à noite. Dia de selecção na televisão. Dia livre à sexta-feira,
preenchida com aulas na Faculdade. Os meus alunos do 11.º ano decidiram
brindar-me com uma folga. Mais importante do que a aula de Francês era, com
certeza, o jogo da selecção. Entrei na sala vazia, esperei, esperei... Apareceu
uma rapariguinha pouco mais velha do que eu a avisar-me que estavam todos no
café a ver o bendito jogo. Escrevi o sumário, saí, fechei a porta, arrumei o
livro de ponto e decidi não esperar pelos meus pais que iam todos os dias, à
noite, buscar-me à escola. Meti-me a caminho. No dia seguinte, tinha Expresso
às 6 horas e 30 minutos para Lisboa e um dia repleto de aulas. Era da maneira
que ia mais cedo para a caminha! A escola fica a cerca de 500 metros da casa
dos meus pais. Não se via ninguém na rua. Quase a meio do caminho, senti um
arrepio e abotoei o casaco. Olhei para trás, um indivíduo vinha lá ao fundo,
muito ao fundo. Descansei. Pensei, outro que saiu mais cedo!... Alarguei o
passo, tinha pressa de chegar a casa. Não sei porquê, mas estava com medo!
Voltei a cara para trás, sem alterar a passada, e reparei que o indivíduo
ganhara terreno... Também está com pressa! Faltavam uns metros para chegar a
casa dos meus tios, que dista uns 50 metros da casa dos meus pais. Apressei
ainda mais o passo e o medo também! Olhei pelo canto do olho. O homem de
camisola cor de tijolo estava cada vez mais perto. Bastava, agora, atravessar a
estrada para chegar a casa dos meus tios. Ouvia agora os passos do individuo. Alarmada,
pedia a Deus: Por favor, deixa-me chegar ao portão! Ao portão! Ao portão! Corri
e o homem correu atrás de mim. Lancei-me ao portão e agarrei-me, como a uma
tábua de salvação. A camisola cor de tijolo agarrou-me por trás, tapou-me a
boca com a mão enluvada e pressionava-me com algo pontiagudo nas costas. Senti
o seu hálito quente e nojento no meu ouvido: se fizeres tudo o que te disser,
não te faço mal. Puxava-me com força para eu soltar o portão e eu agarrava-me
com todas as minhas forças. O portão oscilava e fazia barulho por causa dos
puxões... As luzes acenderam-se, a chave rodou na fechadura, o indivíduo
largou-me e fugiu. Eu caí na lama, junto ao amontoado das pedras da calçada
(andavam a fazer os passeios). O meu tio surgiu, saltou por cima de mim, e
correu atrás do indivíduo. A minha tia acudiu-me, no momento em que os meus
pais iam a passar para me irem buscar à escola. Junto a mim, ficara caída a
navalha de ponta e mola que o homem me apontara às costas. Eu tremia que nem
varas verdes em dia de vendaval. A vizinhança apareceu toda ali. Pouco depois,
surgiu o meu tio com o desgraçado. Já lhe tinha dado uma boa coça. Levámo-lo ao
posto da polícia. Apresentei queixa. Ficou detido. Foi julgado tempos depois e
apanhou nove anos de prisão... Já tinha violado algumas professoras e alunas
com horário nocturno... Nenhuma tinha apresentado queixa por vergonha, talvez!
Eu fui a única, mas todas apareceram no posto da polícia, quando souberam que o
individuo tinha sido apanhado e ia ser julgado... Identificaram-no também...
Ainda
hoje, tenho algum medo de sair, à noite, sozinha. Ainda hoje, olho mil vezes para
trás quando vou na rua sozinha...
Francisco,
eu estava siderada a ouvir esta história! Agora compreendo a aflição da minha
mãe, quando pulou do carro para me acudir!
Sim,
Francisco, se os meus pais se tivessem atrasado mais um pouco, eu não sei o que
podia ter acontecido... Sim, tens razão, ambas as histórias são horríveis e
podiam ter acabado muito mal...
Tu podes escrever guiões para filmes de suspense... Até eu estava aflito...
ResponderEliminarMagnífico, como sempre.
Rita, minha querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.