A Joana chegou à escola com os olhos inchados e tão vermelhos!
- Estiveste a chorar? - perguntámos em coro.
Ela não respondeu, mas os seus olhos não paravam de falar, de gritar em silêncio. Algo de muito grave tinha acontecido! As lágrimas, veios de água pura e cristalina, regavam-lhe as rosas murchas. Pedimos à funcionária que chamasse a nossa DT. Ela veio logo e ficou tão aflita como nós. O Raul disse que se calhar tinha morrido alguém. Travei-o com o olhar. Ele arregalou-me os olhos e sussurrou um "só se chora assim, quando morre alguém, não é?". A professora mandou-o calar, agarrou na Joana e levou-a para a casa de banho das professoras.
A Joana chorou, chorou agarrada à DT, mas não respondeu a nenhuma pergunta. Nós estávamos todos à espera, angustiados. A professora chegou à porta e mandou-nos para a aula, perguntámos pela nossa colega e a DT sossegou-nos:
- Ela está mais calma.
- Mas, professora, morreu-lhe alguém, não foi? - insistia o Raul.
- Por favor, meninos, depois falamos. Agora, todos para a aula de Matemática!
Contrariados, lá fomos.
A Joana chegou mais tarde, acompanhada pela nossa professora de Português.
Todos os olhos caíram em cima da Joana. Ela baixou o olhar turvo e vermelho.
Quando a professora de Matemática terminou a aula, começámos a sair, devagarinho, os pés pesavam-nos toneladas. A Joana chamou-me. Virei-me.
- Fica comigo, Rita, não me deixes sozinha - pediu.
- Vamos - disse-lhe - vamos ao bar.
- Preciso de te contar uma coisa, Rita.
A voz tremia-lhe. Os olhos, numa súplica, tremeluziam alagados. Peguei-lhe na mão e sorri tristemente.
- Joana, podes contar sempre comigo. Os amigos não são só para as ocasiões boas, para as festas e os passeios!
- Rita, tens de jurar-me... não contas nada a ninguém... jura, Rita...
- Estiveste a chorar? - perguntámos em coro.
Ela não respondeu, mas os seus olhos não paravam de falar, de gritar em silêncio. Algo de muito grave tinha acontecido! As lágrimas, veios de água pura e cristalina, regavam-lhe as rosas murchas. Pedimos à funcionária que chamasse a nossa DT. Ela veio logo e ficou tão aflita como nós. O Raul disse que se calhar tinha morrido alguém. Travei-o com o olhar. Ele arregalou-me os olhos e sussurrou um "só se chora assim, quando morre alguém, não é?". A professora mandou-o calar, agarrou na Joana e levou-a para a casa de banho das professoras.
A Joana chorou, chorou agarrada à DT, mas não respondeu a nenhuma pergunta. Nós estávamos todos à espera, angustiados. A professora chegou à porta e mandou-nos para a aula, perguntámos pela nossa colega e a DT sossegou-nos:
- Ela está mais calma.
- Mas, professora, morreu-lhe alguém, não foi? - insistia o Raul.
- Por favor, meninos, depois falamos. Agora, todos para a aula de Matemática!
Contrariados, lá fomos.
A Joana chegou mais tarde, acompanhada pela nossa professora de Português.
Todos os olhos caíram em cima da Joana. Ela baixou o olhar turvo e vermelho.
Quando a professora de Matemática terminou a aula, começámos a sair, devagarinho, os pés pesavam-nos toneladas. A Joana chamou-me. Virei-me.
- Fica comigo, Rita, não me deixes sozinha - pediu.
- Vamos - disse-lhe - vamos ao bar.
- Preciso de te contar uma coisa, Rita.
A voz tremia-lhe. Os olhos, numa súplica, tremeluziam alagados. Peguei-lhe na mão e sorri tristemente.
- Joana, podes contar sempre comigo. Os amigos não são só para as ocasiões boas, para as festas e os passeios!
- Rita, tens de jurar-me... não contas nada a ninguém... jura, Rita...
A sua voz saía-lhe aos tropeções, ora sumida, ora estridente. Os olhos inchados, muito esbugalhados, pareciam querer sair-lhe das órbitas. Apertou-me as mãos com força, querendo agarrar-se a algo.
- Rita, eu tenho de contar a alguém, eu preciso de desabafar. Eu sinto um peso tão grande em cima de mim!
Fomos para um lugar sossegado, faltámos a Francês.
Francisco, a Joana foi violada. Sim, ouviste bem, foi violada. Fecha a boca. Sei que estás pasmado. Eu também fiquei, mais, fiquei tão revoltada, tão enojada, que ia vomitando. Foi o pai dela, Francisco, foi o pai dela que a violou. E ela não quer dizer nada a ninguém. Só eu é que sei. Ela só me contou a mim. Acreditas, Francisco, que ela nem quis contar à DT. Ajuda-me, diz-me o que hei-de fazer, Francisco. A Joana foi para casa da Márcia, passa lá esta noite. Como é que eu vou conseguir dormir, esta noite? Vou ter mil pesadelos. Olha, tenho vontade de chorar, de gritar... Não sei se vou conseguir manter este segredo. Eu acho que devíamos pedir ajuda à DT, à minha mãe, a alguém...
Amanhã, vou ter uma conversa séria com a Joana.
- Rita, eu tenho de contar a alguém, eu preciso de desabafar. Eu sinto um peso tão grande em cima de mim!
Fomos para um lugar sossegado, faltámos a Francês.
Francisco, a Joana foi violada. Sim, ouviste bem, foi violada. Fecha a boca. Sei que estás pasmado. Eu também fiquei, mais, fiquei tão revoltada, tão enojada, que ia vomitando. Foi o pai dela, Francisco, foi o pai dela que a violou. E ela não quer dizer nada a ninguém. Só eu é que sei. Ela só me contou a mim. Acreditas, Francisco, que ela nem quis contar à DT. Ajuda-me, diz-me o que hei-de fazer, Francisco. A Joana foi para casa da Márcia, passa lá esta noite. Como é que eu vou conseguir dormir, esta noite? Vou ter mil pesadelos. Olha, tenho vontade de chorar, de gritar... Não sei se vou conseguir manter este segredo. Eu acho que devíamos pedir ajuda à DT, à minha mãe, a alguém...
Amanhã, vou ter uma conversa séria com a Joana.
Infelizmente minha amiga, há muitos casos desses
ResponderEliminarem muitos lares. É horrível, eu sei, mas existem.
Obviamente que quem é vítima precisa de um
imenso apoio à sua volta, mas não o voltará
a esquecer isso é impossível.
Gostei muito que tenha ido ao eu blogue.
Eu tenho o http://sinfoniaesol.wordpress.com
em que insiro bastate poesia que é cedida(eu
não sou poetisa,infelizmente) se quiser passar
por lá e até quem sabe, fazer a análise de
algum dos poemas...
Um grande beijinho e apesar de toda esta crise
que tenha o melhor 2012 possível.
Um beijinho
Irene Alves