Os pesadelos continuam. Digo todas as noites à minha mãe que não quero adormecer, mas ela tranquiliza-me, diz que se o pesadelo vier me acorda logo.
Aqui em casa todos estão preocupados comigo, já falam em levar-me a um psicólogo. A minha irmã insiste para que lhe diga o que aconteceu:
- Rita, tens de contar o que te aflige. Ninguém tem pesadelos, assim, todas as noites, por nada.
Olha, Francisco, falei com a Joana e disse-lhe que ia contar tudo à minha mãe. Ela não quer que eu conte, mas eu já não aguento mais. Ando cansada, durmo mal e os pesadelos não me deixam.
A Joana tem ataques de pânico, quando chega a hora de ir para casa, começa a tremer, a tremer, a tremer; os professores não compreendem o que se passa com ela; a DT disse-lhe que queria falar com a mãe dela ou com o pai, para perceber o que se estava a passar; aí, a Joana passou-se e começou a gritar que não, que não queria e começou a chorar e a tremer; tivemos de ir com ela para o SASE para lhe darem qualquer coisa para a acalmar.
Mas está decidido, hoje, quando a minha mãe vier das aulas, vou contar-lhe tudo, vou seguir o teu conselho, Francisco. Tens razão quando dizes que se trata de um assunto delicado e muito grave e que só um adulto nos pode ajudar a solucionar. A Joana não pode contar com a mãe, porque ela não acredita nela, disse-lhe que era mentira e que ai dela se contasse a alguém! A Joana disse que tinha nojo do pai e que não queria viver na mesma casa que ele e a mãe respondeu-lhe que se alguém tinha de sair, era ela, o pai não saía dali. Pobre Joana!
Andei a espreitar por aqui e adorei estes textos, autênticos retratos duma sociedade (nós, todos nós) construída em pequenas prevaricações, pequenos "jeitos", até se transformar no que é.
ResponderEliminarPassar a acompanhar o que se escreve por aqui é, no mínimo, uma obrigação.
Bj