Olá Francisco!
Sei... sei muito bem que tenho falado pouco contigo, mas já sabes como é...
Olha, tenho ido às aulas e tenho ido ter com a minha mãe ao ginásio, espero por ela e, depois, vamos lanchar e tem sido óptimo. Temo-nos rido bastante com as reacções das pessoas... É engraçado, estarmos numa esplanada, descansadinhas, a saborear o nosso lanchinho e a observar o que se passa à nossa volta... E, por vezes, mesmo sem falarmos, apenas uma troca de olhares, um sorriso... e acabamos a rir à gargalhada. As pessoas são tudo menos discretas!
E os homens que frequentam o ginásio, tu não estás bem a ver... Armários. Alguns são autênticos armários andantes a pavonearem-se de um lado para o outro. A minha mãe, lá, está, na dela, a fazer os exercícios, a olhar para a televisão e, de vez em quando, a procurar o meu olhar... E sorrimos... Ambas sabemos de quê. Dos pavões rectangulares, claro!, ou seja dos armários. Outros são tão gordos e disformes que mesmo que frequentem o ginásio dia e noite, jamais chegarão ao estatuto de armário andante. E os olhares que deitam às mulheres! Eu divirto-me a sério a observar aqueles rituais. Olha, há vários olhares: olhares desaprovadores para as meninas e senhoras mais gordinhas e balofas; olhares de engatatões para as miúdas e senhoras com tudo no lugar; olhares que ficam presos nos traseiros ou nos seios, conforme o gosto; olhares insistentes à procura de outros olhares que olham, mas não vêem. O olhar da minha mãe é este último.
Pergunto-lhe, à saída:
- Viste aquele fulano de cabelo rapado que não tirava os olhos de ti?
- Quem? Qual?
- Moreno, alto, careca...
- Humm, não vi ninguém com essa descrição.
- Pois, mas olha que ele viu-te bem e de todos os ângulos.
- E aquele que insistiu para te levar os pesos?
- Que tem? Quis ser amável e despachar-me da máquina...
- Ó mãe, o tipo andou o tempo todo atrás de ti, a fazer os exercícios que tu fazias... Achas isso normal?
- Sei lá! Eu vou ao ginásio fazer exercício, não vou ver armários nem pavões, como tu lhes chamas.
Hoje, ao chegarmos ao carro, havia um bilhete no limpa pára-brisas. Ia dando um ataque à minha mãe. Pensou que fosse uma multa. Começou logo a dizer mal à vida dela e à procura do sinal de "Proibido estacionar". Eu, calmamente, até porque não seria eu a pagar a multa, dei a volta ao carro, tirei o bilhete, acenei e disse não é uma multa. A minha mãe sorriu:
- É mais um daqueles "curandeiros" a apregoar os seus serviços?
- Não! "A senhora é muito bonita!".
- O quê?
- O bilhete diz: "A senhora é muito bonita!".
- Mostra lá.
Olhou o bilhete, olhou para mim e desatámos a rir.
- Vamos para casa.
- Ó mãe, não tens curiosidade? Não gostarias de saber quem escreveu este bilhete?
- Não! Algum idiota que precisa de óculos ou que se enganou no carro.
- Tu és bonita mãe! pode ter-se enganado no carro, mas se te viu e se escreveu o bilhete para ti, não precisa de óculos nem é cego.
- Rita, tu e a tua imaginação!
- Olha, mãe, sabes que mais? Se o autor do bilhete não se enganou no carro nem na pessoa, ainda vão aparecer muitos bilhetes...
Vou jantar, Francisco!
Passei para conhecer o seu blog.
ResponderEliminarDelícia de bilhete, foi uma das leituras mais agradáveis que já tive.
Queria que fosse minha mãe a receber um bilhete desses.
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Muita paz e muita luz em nossas vidas, no Natal e sempre!!!
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░F░E░L░I░Z░
N░A░T░A░L░!!!
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