Os exames da minha mãe estavam óptimos. Tudo bem. O médico que já a conhece há 10 anos, brincou com ela como sempre! Ele tem um grande carinho por ela! Pronto, está tudo como deve estar, está linda por dentro e por fora, viva, divirta-se, o que aconteceu já lá vai, para quê essa tremedeira toda, essa cara de medo, essa desconfiança... Aí, o sorriso da minha mãe abriu-se, tudo na cara dela sorriu, principalmente os olhos. E pronto!
Olha Francisco, eu tinha-te dito que depois te contava aqueles momentos horríveis por que a minha mãe passou e toda a família, mas não vai ser hoje. Agora, tenho de te contar uma coisa grave, mesmo grave e, como não posso contar a mais ninguém... Mas é que se não falo, expludo, vou confidenciar-te o que se está a passar com a minha amiga Sara.
A Sara anda a tirar a carta comigo. Eu já conheço a Sara há três anos, conheci-a no 10.º ano. Tornámo-nos amigas, mas não muito amigas!, amigas, sabes como é?, sem grandes intimidades. Ela tem 22 anos, temos cinco anos de diferença! Ela achava-me um bocado beta, uma menina da mamã, um bebé ainda. Este ano é que nos aproximámos mais e agora estamos ambas a tirar a carta e temos falado bastante, temo-nos encontrado, temos ido ao cinema, juntamo-nos com amigos, jantamos todos algumas vezes, vimos aqui para casa, para a piscina... Enfim, acho-a divertida, muito extrovertida e desinibida, mas um bocadinho "para a frente de mais!".
Ontem, ela telefonou-me e disse que tinha algo muito grave para me contar e que precisava de falar comigo urgentemente, mas não pelo telefone. Marcámos encontro no café.
E eis o que ela me contou:
- Rita, sabes aquele professor da escola de condução, aquele bonitão de olhos verdes, alto, que se veste muito bem?
- Aquele que explica muito bem?
- Rita, o homem é lindo e tu só tens para dizer que ele explica muito bem. Mas, sim, é esse!
- Sara, o homem lindo, como tu dizes, tem mais de cinquenta anos, tem idade para ser teu pai. Tudo bem, ele deve ter sido um borracho quando era da nossa idade, mas agora, é um bocadito velho, não achas?
- Por amor de Deus, Rita, velho? Já viste que os rapazes da minha idade, nem falo dos da tua!, são uns pãezinhos sem sal, não têm graça nenhuma, não sabem falar de coisa nenhuma...
- Sara, a coisa grave que me querias contar... é que... (e eu olhava muito séria para ela, para os olhos dela)... Por favor, não me vais dizer que estás apaixonada pelo professor?
- Não, não estou. É mais grave do que isso!
- Mau!
- Fui para a cama com ele.
Franzi a testa. Parecia que algo me tinha caído em cima. Ela acabara de me dizer da maneira mais natural que tinha ido para a cama com o professor. Levantei a sobrancelha esquerda de tal forma que me pareceu que não ia conseguir colocá-la de novo no seu devido lugar.
- Sara, tu só podes estar a brincar! O homem, às tantas, até é casado...
- É divorciado.
- Seja como for, como é que foste capaz de ir com um homem da idade do teu pai para a cama? Ainda por cima, disseste que não estás apaixonada por ele! Caramba, onde andas com a cabeça!
- Olha, eu não sei como aconteceu, ele diz que eu o andava a seduzir, a provocar, que nas aulas o olhava descaradamente e que me punha a lamber o lábio superior de uma maneira muito sensual e convidativa... Mais, que não conseguia tirar-me da cabeça e que até sonhava comigo acordado e a dormir, que em sonhos já tinha feito tudo o que uma mulher faz com um homem...
Eu tinha os olhos completamente esbugalhados, estava atónita, de boca aberta, a mente completamente bloqueada... A Sara é um bocado destrambelhada, tem a mania que é boa, que é bonita, que é sedutora, que os rapazes gostam todos dela (e os que não gostam é porque são gays ou têm um problema qualquer ou ainda andam de volta das saias da mãe e com os cueiros colados ao rabo...). Agora, ir para a cama com um tipo que mal conhece, que não ama e com mais do dobro da idade dela, era dose. Assaltou-me, de repente, um mau pressentimento.
- Sara, usaram preservativo?
Ela riu-se e disse, com um ar muito divertido, descaradamente:
- Sim, mamã, usámos não um, mas dois preservativos.
Voltei a fazer subir as minhas sobrancelhas, com um grande ponto de interrogação a saltar-me dos olhos cada vez maiores.
- Fizemos aquilo duas vezes.
- Aquilo!?
- Rita, não fiz amor duas vezes com ele! Hello!, eu não amo o gajo. Demos duas quecas.
Os olhos quase me saltaram das órbitas de espanto.
- Rita, fazemos amor com quem amamos, com os outros f------, percebes?
- Sara, por amor de Deus, tu andas a tomar coisas? Eu nunca te ouvi dizer palavrões e agora dizes-me que f------ com um tipo duas vezes... Tu não estás bem?
- E não estou! Não sei como me meti nisto! Ele, numa aula da tarde, pegou no meu livro para explicar uma coisa qualquer e depois andou às voltas pela sala com o livro na mão... Entretanto, terminou a aula, saímos todos e eu nunca mais me lembrei do livro. Fomos ao café comer um bolo. Lembras-te?
- Ah, saíste do café a correr a dizer que ias buscar o livro, que te tinhas esquecido... E não voltaste.
- Pois! Subi as escadas, estavam às escuras, pensei que talvez já lá não estivesse ninguém... espreitei e vi luz na sala. Galguei o resto dos degraus, mas fui travada no último degrau. Ele agarrou-me e beijou-me. Ele estava à minha espera. Ficou na escola, porque sabia que eu regressaria para pegar o meu livro. Primeiro assustei-me, quando me agarrou, mas quando vi que era ele... E foi cá um beijo. empurrou-me contra a parede, agarrou-me as mãos, levantou-mas para cima, fiquei esticada, as mãos dele nas minhas e encurralada pelo corpo dele. Encostou-se tanto a mim que parecia querer entrar dentro de mim. Aquilo crescia contra mim. Por fim, desenvencilhei-me daquele aperto, desci as escadas a correr.
- Não trouxeste o livro nem nada. Ele deu-to na aula seguinte com um, Aqui está o livro que me emprestou na última aula! Na altura fiquei espantada! Afinal, não tinhas ido buscar o livro!?
- Depois, começaram as aulas práticas e o meu instrutor é ele, como sabes.
- Mas tu ficaste toda contente por ser ele a dar-te as aulas de condução!
- E fiquei.
- Olha, depois do beijo, deverias ter pedido outro professor.
- Pois devia, mas estava entusiasmada com o facto de despertar algo num homem bem mais velho do que eu, era quase um desafio... E nunca pensei ir mais longe...
- Mas foste, Sara!
- Na primeira aula, ele teimava em pôr as mãos dele sobre as minhas, no volante, na manete das mudanças... Eu ria-me, pensava que ele me estava a orientar, que me achava um bocadinho aselha... As pernas tremiam-me um pouco, era a primeira vez que pegava num carro e ele punha-me a mão na perna e agarrava-ma, ria e dizia: Calma, eu estou aqui! Isto acontece a todos na primeira aula. Depois terminou a aula e perguntou-me se não lhe dava um beijo.
- E tu não deste, claro!
- Dei, ia dar-lhe na cara, um beijo de despedida e ele virou a cara e beijou-me na boca.
- Tu és doida! Incentivaste o tipo.
- Depois começou a telefonar-me para o telemóvel.
- Tu deste-lhe o número... Ó Sara, mas o que é que te deu?
- Não lhe dei número nenhum, ele é o dono da escola de condução, tem lá os dados das pessoas: nome, morada, telefone...
A minha boca formou o O maior do mundo, os meus olhos ficaram maiores do que a minha boca aberta.
- Rita, ele telefonou-me a dizer que me ia buscar a casa, que queria ver-me. Eu ripostei. Disse que não queria que me telefonasse e que não lhe ia dar a minha morada... Mas, ele riu e disse: Querida, eu tenho a tua morada, o teu telefone... Desliguei e não voltei a atender o telefone.
- E depois?
- Na aula seguinte, ele mostrou-se zangado, fartou-se de ralhar comigo cada vez que eu não tinha mãos suficientes para conduzir o carro, deixei o carro ir abaixo uma série de vezes, ia batendo num carro que estava estacionado, ia atropelando uma pessoa na passadeira. Ele travou a fundo e eu assustei-me. Ele mandou-me encostar para trocarmos de lugar, que eu estava muito nervosa, que precisava de descontrair... E de repente, vi-me em casa dele, na cama dele, a f---- com ele uma vez e, depois, outra.
- Sara, não fales assim, não digas palavrões.
- E foi bom, Rita, foi mesmo bom.
- Caramba, Sara, e agora?
- Agora, ele quer mais, e vejo-o, por vezes, estacionado ao pé da minha casa. E tenho medo que os meus pais descubram. E quero e não quero voltar a fazer aquilo com ele.
- Sara, não podes continuar com isso. Pára já, não deixes avançar mais. Pede outro professor lá na escola. Não te encontres mais com ele. Se ele te continuar a perseguir, vai à polícia. Ele pode fazer-te mal, não sei, mas pode. Ó meu Deus, Sara, não te encontres mais com ele. Se for preciso conta à tua mãe, pede ajuda a alguém. Sei lá!
Pronto, Francisco, aqui tens o que a destrambelhada da Sara fez. Achas que foi apenas um acto irreflectido? Tu também estás doidinho! É que sabe-se lá o que é que este acto irreflectido, como dizes, pode trazer!
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