A minha mãe acha que não devemos condenar as pessoas, logo à partida, sem as conhecermos, só porque são diferentes de nós - Quem namora pelo fato, leva o diabo no contrato. A roupa não interessa, o aspecto também não deveria interessar, o importante é o que somos por dentro e o que está no interior de cada um, não é visível aos olhos, é-o somente ao coração. Não devemos tecer juízos de valor, considerações..., antes de conhecermos as pessoas. Ficaram espantados com o aspecto da Linda, não estavam à espera..., compreendo, mas reprovo...
Francisco, foi sobre a Linda a nossa conversa ao jantar!
O meu pai desculpou-nos, disse que também ele teria dificuldade em permanecer indiferente a tão estranha criatura e achou que os meus colegas até tinham algum sentido de humor... A senhora eufemismo lançou-lhe um olhar reprovador e o meu pai só não corou porque é demasiado moreno, mouro, como ele diz.
A Francisca ouvia calada, meditativa e olhava-nos com um sorriso traquina na boca bonita. Deve estar a preparar a sua intervenção apoteótica, pensei.
- Olha, Rita, convida-a para passar cá um dia connosco e vais ver a transformação da "piquena"! - disse ela a rir e a piscar-me o olho.
Pronto, se há alguém no mundo capaz de transformar uma gata borralheira numa princesa, é sem dúvida a minha doce maninha.
O meu pai apoiou logo:
- Faz isso, Rita! Já estou a imaginar a Linda a sair daqui linda...
- Não acham que estão a pôr o carro à frente dos bois? - lembrou a minha mãe. - Falam como se já fossem amigos íntimos da rapariga.
- Ora, mãe, a santa Rita trata disso! Amanhã já é a melhor amiga, a salvadora, a defensora da mártir Linda, a bruxa negra... - atirou a minha irmã, sorrindo e com um brilhozinho no verdor dos seus olhos grandes.
- Bem, Francisca, também tu...
- Sim, querida mana, Santa Rita, a defensora dos "cachorrinhos abandonados"...
- Mas, estão a falar de quê? - perguntou o meu pai. - Cachorrinhos abandonados?
- Isso são coisas nossas, pai, nem queiras saber... - atalhou a Francisca, piscando-me o olho.
Uma coisa é certa, Francisco, eu já estou mesmo a ver o rebuliço que a Francisca vai fazer à pobre da Linda. Até já estou a ouvir a água a correr na banheira, a ver a espuma a formar-se, as pétalas de rosa, os sais... Já consigo até sentir o cheirinho bom em toda a casa...
A água toda negra, no fim? Ó Francisco, és mesmo mauzinho! Temos de passá-la por várias águas? Pára com isso, Francisco! Que mau! Já não te conto mais nada! Conto? Sabes que conto! Tens-te em muito boa conta, tu!
Amanhã, vou falar com a Linda e como quem não quer a coisa, vou perguntar-lhe por que razão se esconde por baixo daquela maquilhagem e roupa fúnebres.
Olha, vou dormir, até amanhã!
Sabes uma coisa?
ResponderEliminarTu devias dedicar-te a tempo inteiro à escrita. Porque estes episódios indiciam que tens fôlego para muito mais. Para o romance, por exemplo.
Pensa nisso...
Rita, minha querida amiga, tem uma boa semana e uma Páscoa Feliz.
Beijo.