Francisco, hoje a minha mãe está tão FELIZ!... Ficámos todos felicíssimos com a alegria dela!
Sabes, quando andamos à espera que uma coisa boa aconteça na nossa vida e esperamos, esperamos, esperamos... e deixamos quase de esperar... e pensamos que não vai mais surgir... e, de repente, quando já não esperamos, acontece... Foi mais ou menos uma coisa assim que aconteceu com a minha mãe!
A minha mãe adora ser professora, gosta dos alunos quase como se fossem da sua família... Vibra com os seus sucessos, entristece-se com as suas derrotas... Acarinha-os, quando precisam de um ombro amigo; guarda segredo se eles lhe pedem; dá conselhos; ri-se com eles; dá-lhe nas orelhas, quando é preciso; zanga-se, mas logo esquece e, como ela lhes diz: "A nossa relação é como a dos namorados, portanto vamos começar tudo de novo, tudo o que ficou para trás é para apagar, águas passadas não movem moinhos!" Tu até sabes que ela tem uma relação óptima com os alunos e eles sabem que podem contar sempre com ela!
Queres que eu passe logo aos finalmente, estás impaciente, Francisco, eu sei bem que estás!
A minha mãe tinha uma Direcção de Turma muito mazinha, aliás, calham-lhe sempre na rifa turmas dessas... No sétimo ano, eles eram os piores alunos da escola! Lembro-me da cara de desânimo da minha mãe a contar-nos as peripécias e as faltas de educação desses meninos. Havia vários alunos problemáticos. O Diogo era o pior e a minha mãe contava coisas verdadeiramente inacreditáveis...
Tu sabes que a minha mãe adora poesia e numa aula, depois de analisar com os alunos um poema sobre a mãe, pediu-lhes que escrevessem um texto em prosa ou em verso sobre o mesmo tema. Todos gostaram da ideia menos o Diogo que disse que escreveria sobre o pai, o avô, sobre qualquer pessoa, mas sobre a mãe NUNCA! A minha mãe perguntou-lhe por que razão não escrevia sobre o tema proposto e ele disse cobras e lagartos da mãe, o pai é que era o seu ídolo, o pai era tudo, a mãe não valia nada... A minha mãe ficou muito incomodada com o que o aluno disse e decidiu convocar a mãe para uma reunião. A senhora prontificou-se vir logo no dia seguinte e assim foi.
A mãe do Diogo chorou a reunião toda a falar sobre as dificuldades que tinha com o Diogo e com o marido, pai do Diogo. Achava que o pai era uma má influência, era violento com ela, ameaçava-a constantemente... Ela tentou pedir o divórcio, mas ele disse que a matava, que a caçava onde quer que fosse... Vivia aterrorizada e o filho falava com ela nos mesmos moldes, sem uma palavra de carinho, nada...
A minha mãe sugeriu que a senhora levasse o filho a um psicólogo ou a um psiquiatra, pois havia atitudes muito estranhas como bater com a cabeça no quadro, na parede, levantar-se do seu lugar e ir agredir um colega sem qualquer motivo aparente... Ela respondeu que nem pensar, que ele não aceitaria e o pai ainda pior, pois sempre lhe disse que a única pessoa maluca, desequilibrada e com problemas era ela... Estiveram a pensar como levar o Diogo a uma consulta e a minha mãe disse-lhe que combinasse com o psiquiatra o modo de consultar o Diogo sem ele se aperceber: ia acompanhá-la à consulta e, depois, no intuito de ajudar a mãe, o médico faria algumas perguntas aos dois, depois só ao Diogo... e às tantas estaria a consultá-lo sem ele se aperceber...
O Diogo começou a ir às consultas com a mãe e começou a melhorar o seu comportamento. Em relação ao texto sobre a mãe que o Diogo não quis fazer, a minha mãe só lhe disse que experimentasse a olhar para a mãe com os seus próprios olhos e não com os do pai e que visse ele como era a mãe verdadeiramente, que ele já era crescidinho para formular as suas opiniões e não ir atrás das opiniões dos outros...
Hoje, passados dois anos, o Diogo entregou à minha mãe o texto que ela lhe pedira no sétimo ano sobre a mãe. E era um texto lindo, Francisco, a minha mãe ao ler-nos o texto quase chorou de felicidade. O Diogo falava da mãe com um carinho, com um orgulho... devias ter visto o texto que ele escreveu! A mãe é tudo para ele!
Como aconteceu ele ter vindo dar agora o texto à minha mãe? Ele encontrou-a no corredor e disse, professora, tenho aqui um texto para a professora corrigir, era para fazer no sétimo ano, eu sei, mas levei algum tempo a ver com os meus olhos.
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