Um gritou, como se não tivéssemos dado por isso:
- Chegámos, pessoal.
Saímos do autocarro aos atropelos, aos empurrões, animais a saírem da jaula...
- Calma, meninos, não tenham medo que ninguém fica aqui...
- Meninos?!, professora? Ah, claro, para os professores e para os nossos pais... somos sempre criancinhas, quase acabadas de nascer.
Fomos saindo e corremos para buscar as mochilas.
O Luís ficou de boca aberta a olhar para os vários preservativos gigantes e coloridos a passearem-se pela rua, numa algazarra descomunal.
- Hei, Luís, a tua mochila...
Acabou por encolher os ombros e procurar o seu saco no meio dos outros que estavam ali, no meio daquela grande confusão. O Luís estava espantado e surdo, só tinha olhos para aquele grupo de cores chamativas que ia descendo a rua.
No fim, já na posse dos nossos pertences, juntámos-nos aos professores.
Só restou uma mochila. O motorista chegou-se ao pé do grupo barulhento e disse:
- Alguém se esqueceu desta sacola.
Olhámos uns para os outros, e depois de cinquenta e tais não é minha, não é minha, não é minha... O Zé informou:
- Ah, essa é a mochila do Luís.
Todos os olhos procuraram o Luís. Do Luís nada! Onde está o Luís?, onde pára o Luís?, aonde foi o Luís?, alguém viu o Luís?, mas será que ninguém viu o Luís?, mas onde é que se meteu o raio do rapaz?...
Os olhos alongavam-se até ao horizonte e do Luís nem a mais pequena sombra.
Mais um chorrilho de perguntas retóricas: quem viu o Luís?, alguém viu o Luís depois de sairmos do autocarro?, onde estava?, com quem estava?, estava a fazer o quê?. a falar com quem?...
O Zé, por fim, falou: ele ficou a olhar para uns preservativos andantes, foi o que vi. Às tantas foi atrás deles para ver para onde iam.
O Rafael, sempre danado para a brincadeira, alvitrou:
- Ai, meu Deus, e se os preservativos foram para onde costumam ir!...
E houve sermão e missa cantada: deixa de ser engraçadinho!; tu és parvo ou quê?; um colega teu desapareceu e tu estás com piadinhas!, recolhe o teu espírito, parvo...
A visita de estudo começava bem!
Os professores dividiram-se: um ficou a tomar conta de nós; outros foram à polícia, outros às informações.
Mais tarde, apareceu o Luís, todo sorridente, com a professora de História. A professora não sabia se havia de rir ou de mostrar cara de poucos amigos...
E foi assim que uma visita de estudo ficou comprometida, por causa de uns preservativos coloridos, às tantas, com sabores a morango, maçã ou laranja, que se passeavam pela rua e que faziam parte de uma campanha de prevenção.