domingo, 26 de maio de 2013

A prof. de Ciências e o Acordo

Francisco, o final do ano aproxima-se a passos largos e há tanto para fazer, principalmente estudar, estudar, estudar, estudar... Aqui em casa anda tudo em papos de aranha, a minha mãe com resmas de testes para corrigir e trabalhos e composições e exposições a decorrer com os trabalhos dos alunos; o senhor raiz quadrada anda sempre de mau humor e a praguejar por causa dos maus resultados a Matemática, da falta de trabalho e de empenho dos alunos. Os resultados são péssimos, nas três turmas de nono que tem, o balanço foi terrível, três positivas em cada turma. O teste intermédio foi para esquecer, só houve duas positivas numa turma... ; a Francisca anda de volta da tese e não fala noutra coisa. Está cheia de medo! Ainda por cima entrou em conflito com a orientadora ou lá o que é, por causa do Acordo Ortográfico. Ela enviou o trabalho e a professora devolveu-lho todo rasurado, todo pintalgado de vermelho. A minha irmã perguntou que raio era aquilo e a orientadora respondeu-lhe que o trabalho estava cheio de erros ortográficos. 
- Erros ortográficos? Deve estar a brincar comigo, nunca ninguém me apontou um único erro, eu não dou erros ortográficos nenhuns...
- Agora dás, tens de escrever segundo o acordo.
- Está a pedir-me para escrever com erros? Qual acordo, qual carapuça! Eu só escrevo em português decente.
- Se teimares, serás penalizada.
E a Francisca telefonou logo à minha mãe e chorava e dizia que aquela anormal lhe tinha vermelhejado o trabalho todo, que queria que ela escrevesse em acordês, que era uma ignorante, uma burra com duas pernas e saias... A minha mãe ouviu, ouviu, ouviu e depois disse-lhe que estivesse descansada que lhe iria arranjar a lei que dizia que o AO é inconstitucional e que não está nem pode estar em vigor... E que se mesmo assim a penalizassem na nota que se ia para tribunal... A minha maninha ficou mais calma e disse que ia falar com a orientadora...
Olha, Francisco, eu até tenho sorte com esta coisa do AO, a professora de Português nem quer ouvir falar nisso, está sempre a dar exemplos de palavras acordadas que até dão vontade de rir, o que nos divertimos com os exemplos que ela arranja para vermos a aberração que é o famigerado acordo. Só a professora de Ciências é que é toda pró acordo, mas não conseguiu até hoje explicar-nos porquê, que é para uniformizar a língua portuguesa, que os portugueses e os brasileiros passam a escrever tudo do mesmo modo ou quase tudo. Desatámos a rir com este argumento tão disparatado e apresentámos logo mais de cem exemplos onde não há qualquer maneira de uniformizar a língua... A professora não conseguiu contra-argumentar e acabou por dizer que é lei e que as leis são para cumprir... E o riso voltou a estalar. A conversa acabou com vamos mas é dar matéria, porque vocês estão todos "feitos" com a professora de Português. O André perguntou se podia escrever uma frase no quadro em acordês para a professora lha explicar, porque ele, como era contra o acordo, não conseguia decifrar aquilo. Ela acedeu e no quadro apareceu: "Não me pelo pelo pelo de quem para para desistir". A professora ficou a olhar com uma cara... e foi uma enxurrada de gargalhadas. O Filipe levantou-se e escreveu: "Preciso de um medicamento para o nervo ótico."  Ah, essa é fácil, sorriu a professora: é um medicamento para os olhos. Ai isso é que não é, disse o Filipe, é para os ouvidos. O Gonçalo decidiu também atazanar a professora e saltou para o quadro, decifre esta, professora: "Não se fie em corretores, podem dar indicações erradas!" Mais uma vez a prof. ficou à toa.
- Professora, essa frase é ambígua, não sabemos se se fala de corretores da bolsa, se de correctores ortográficos! - disse-lhe.
- E este título de uma notícia: "Ninguém para este motorista!" - atirou a Linda.
A professora foi salva pela campainha.
Pois, Francisco, ela ficou com os neurónios todos queimadinhos. Acho que ela estava a rezar para a aula acabar logo, pois não decifrou nenhum dos enigmas apresentados. Quando contámos à professora de português, ela disse com um ar muito confrangedor, que mauzinhos! A minha mãe, quando lhe narrei o sucedido, partiu-se a rir. A Francisca aprovou e disse que cambada de carneiros, aceitam tudo. Será que já se deram ao trabalho de ler a aberração do Aborto Ortográfico? Não, claro que não! Que gentinha mais idiota!
Bem, vou dormir e sonhar com frases malucas escritas em acodês e mixordês!
O que é mixordês? É um tipo de salada-russa: mistura-se o AO de 45 com o AO de 90.