quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Preparativos para o baile

Que confusão estava o quarto da Francisca, a salinha dela, o quarto de vestir, a casa de banho! Eram vestidos, saiotes, xailes, perucas, meias, sapatos, véus, máscaras... Um amontoado de roupa imenso e acessórios e estojos de maquilhagem... A barafunda era tal que achámos melhor dividirmo-nos pelos outros quartos: o meu e o dos brinquedos. Separámos as coisas, repartimo-las  pelos quartos e fomos jantar apressadamente. Estávamos todas muito excitadas!
Depois, já mais descontraídas, vestimo-nos, mas sempre sob a supervisão da minha irmã.
Os vestidos eram lindíssimos, vermelhos com rendas pretas, justinhos ao corpo, abrindo depois em flor, num espalhafato de folhos até ao chão, arrastando um pouco atrás. As mangas eram também justas e folhosas. Parecia um desfile de flores viradas ao contrário! De repente, a Sónia exclamou:
-     - Francisca, os olhos...
Ficámos a olhar para ela, espantadas.  A aflição estampada no seu rosto fez-nos soltar uma sonora gargalhada.
- Os olhos vêem-se, meninas, e vão denunciar-nos... – insistia ela.
- Pois, não era para sermos todas iguais? – perguntava a Marta, concordando com a Sónia.
A minha irmã ria-se, encostada à porta do quarto.
-Também não é preciso exagerarem: Somos três com olhos verdes, não é preciso mais. E, depois a confusão, a pouca iluminação... Vai tudo correr bem, vão ver! Vai ser uma noite de estalo, para não esquecermos tão cedo... – rematou.
Todas vestidas, todas maquilhadas, penteadas a rigor... sapateávamos divertidas, rodopiando, esticando o peito para a frente e a cabeça para trás e um pouco de lado, batendo castanholas e soltando “olés”... E, claro, rindo a bandeiras despregadas.
Descemos as escadas, num alarido tal, que os meus pais vieram ver-nos:
- Mas que bela colecção de sevilhanas! – exclamou o meu pai.
- Olhem, lembrei-me de uma coisa engraçada – disse a Cláudia - vamos dizer a quem nos perguntar que nos chamamos... chamamos...  Francisca. Não era giro!
A minha irmã adorou a ideia.
Metemo-nos nos carros e os meus pais a rirem e a acenarem e a dizerem para termos juízo e Rita não te afastes da tua irmã, das tuas colegas e tenham cuidado e divirtam-se e vejam lá em que se metem e nada de beberem coisas que vos ofereçam e... e... e... E lá fomos todas a cantar e a bater castanholas.
Claro, que estávamos muito giras, parecíamos todas irmãs, Francisco. Nem sabes como foi, quando irrompemos pelo salão de baile... Tu não estás mesmo a ver, o que foi entrar uma quantidade de sevilhanas, todas iguais, mas iguaizinhas mesmo! Ficou tudo a olhar!
Ah, Francisco, a minha irmã antes de sairmos de casa, dividiu-nos em dois grupos... Não estás a perceber? Depois conto-te. Vou dormir. Tenho sono. Não, conto-te amanhã... Estou cansada. Pois, estás curioso, eu sei!...


sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Baile

A Francisca tem andado muito estranha! Teimou que tínhamos de ir  ao baile, em grupo, todas mascaradas da mesma maneira... Não te parece nada estranho, Francisco? Não? Olha só, os fatos têm de ser iguais, mas iguais mesmo! Tudo igualzinho: roupa, sapatos, meias, luvas, máscaras na cara... Enfim! Vou contar-te!

A minha mana marcou uma reunião cá em casa, convidou as amigas dela e pediu-me que convidasse também algumas amigas minhas. Ah, advertiu-me que só podia convidar raparigas mais ou menos da nossa estatura, isto é, não podiam ser muito mais altas do que eu nem gordinhas... Cheguei a pensar que ela não estava boa da cabeça.
Chegado o dia da reunião, lá estávamos todas, só raparigas, no quarto da minha irmã, fechadas a sete chaves, para decidirmos qual seria a nossa máscara. Tínhamos de chegar a consenso, ninguém podia sentir-se desconfortável com o disfarce escolhido. Eu ainda tentei saber a razão de tudo aquilo... mas fui brutamente interrompida pela Francisca que me atirou um olhar verde fulminante e disse, rindo:
- Vai ser divertidíssimo sermos todas iguais e os rapazes não conseguirem distinguir-nos umas das outras.
Todas concordaram, só eu continuava a achar estranho... A minha irmã querer ser igual a alguém, ser igual a todas nós? 
Depois de se ter escolhido o trajo, a minha mana, que presidia à reunião, fez-nos jurar a pés juntos que nenhuma se identificaria, nenhuma tiraria as luvas, a máscara..., nenhuma falaria...
Olhámos umas para as outras, primeiro atónitas com aquele secretismo todo, depois divertidas... Era capaz de ser realmente giro uma quantidade de miúdas todas iguais no baile!
Combinámos alugar os fatos.
Perto do dia D, fomos todas às compras, era necessário adquirir os acessórios e assegurarmo-nos que eram todos iguais. O sucesso do evento estava em parecermos todas sósias, gémeas...
Continuo a pensar, Francisco, que há marosca nesta decisão da minha irmã! Estou mortinha que chegue o dia do baile para perceber finalmente as razões da menina Francisca. Entretanto, os meus pais acharam a ideia genial!
No próximo fim-de-semana é a festa, vestir-nos-emos todas cá em casa, sairemos todas daqui para o baile e, quando este tiver acabado, regressaremos todas juntas... Está tudo acertado, combinadíssimo!